O Brasil tem 62 milhões de pessoas com o nome sujo por dívidas. Entre os 30 e 39 anos, os endividados são a maioria: 51,5% das pessoas dessa faixa etária estão inadimplentes, segundo dados da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC). Em paralelo a essa realidade, um estudo da Universidade de Cambridge aponta que as crianças aos sete anos já tem definida boa parte de sua forma de compreender a relação com o dinheiro.
Logo surge a dúvida: como ajudar as crianças de hoje para elas não serem os inadimplentes do futuro? Aqui vão algumas dicas simples:
1 – Apresente o conceito de dinheiro: para nós adultos é muito natural que cédulas de dinheiro podem ser trocadas por um produto. Mas para as crianças pequenas isso não passa de um mero pedaço de papel. Portanto, quando vocês estiverem juntos em uma loja, faça com que ela perceba a troca do dinheiro pelo produto no momento do pagamento. Também evite pagar com o cartão na frente delas, pois pode dar a impressão de que o dinheiro é infinito. Além disso, jogos de tabuleiro com dinheiro de mentirinha podem ajudar nessa etapa.
2 – Uma vez que a criança compreenda que dinheiro é trocado por produtos passamos para fase em que ela aprende o valor do dinheiro. E a melhor forma dela entender isso é com o próprio dinheiro, recebido através de uma mesada. Isso vai contribuir na compreensão de que não dá para ter tudo, uma vez que ela terá em mãos um valor e terá de fazer escolhas entre uma coisa ou outra.
3 – A partir do entendimento da crianças de que não dá para ter tudo quando bem entender, levando ela a decidir quais suas prioridades, você terá o momento ideal para ensiná-la a economizar seu dinheiro para comprar algo realmente desejado. Ajude ela a perceber que o dinheiro guardado está aumentando, seja pelo peso do seu porquinho ou contando quanto ela já juntou. E quando for alcançado o valor para comprar aquilo é desejado deixe que a criança pague a compra, para ela sentir o prazer ser recompensada pelo esforço que ela fez ao economizar.
4 – Deixe eles errarem com o próprio dinheiro. Permita que a criança lide com o fato de não puder comprar algo verdadeiramente interessante porque foi feito um gasto impulsivo em algo não tão útil. Ela provavelmente até lhe pedirá para comprar do seu dinheiro, mas não ceda. A frustração causada por essa situação fará com que ela pense mais criteriosamente no futuro e tome decisões mais assertivas.
5 – Apresente para a criança o conceito de orçamento familiar. Isso ajudará ela a entender que existem gastos prioritários como plano de saúde, colégio, água, eletricidade e alimentação. Esse momento permitirá alguma compreensão do custo de se manter uma casa ou um carro, por exemplo. Mostrará também que comprar um playstation novo pode implicar em faltar dinheiro para coisas de maior necessidade. Além disso, estimule que a criança anote os próprios gastos. Isso fará com que ela crie o hábito de cuidar das próprias finanças e a observar com o que ela gasta.
6 – Dê o exemplo. Grande parte do aprendizado das crianças vêm da observação. Suas atitudes serão a base para a criança aprender a diferença entre precisar e desejar. Quando vocês foram ao shopping saiam de casa cientes do que vão comprar, evitando fugir do plano inicial. Se a criança observa os pais comprando por impulso, certamente irá quer tudo que lhe parecer interessante. Também utilize frases como “achei isso interessante, mas vou pensar com calma se realmente preciso”; “achei essa roupa bonita, mas não estou precisando e por isso não vou levar”; “esse sapato é bonito, mas estão cobrando muito caro, então não vou levar”.
7 – Explique o que é um investimento. Que é possível guardar o dinheiro em um banco – através de uma Poupança ou em investimentos seguros como o Tesouro Direto – e fazer com que esse dinheiro guardado aumente com o tempo. Fazer isso na prática e periodicamente mostrar quanto o valor inicial aumentou a estimulará a fazer o mesmo no futuro.
8 – Derrote as propagandas. Crianças assistem muitos desenhos animados e assim são expostas a muitos comerciais, especialmente preparados para transformar os produtos em objetos de desejo da garotada. Tornar as crianças imunes a isso é possível através dos itens 5 e 6 dessa lista. Conscientize seus filhos de que existem prioridades e não dá para ter tudo. E quando vocês estiverem juntos vendo TV e um comercial de um produto do seu interesse for exposto, tire a credibilidade daquela propaganda dizendo: “as coisas parecem tão perfeitas nesses comerciais, que estão sempre tentando fazer a gente comprar o que não precisa”.
9 – Ensine ao seu filho a diferença entre “ser” e “ter”. Crianças costumam se sentir inferiorizadas, por exemplo, se estudam com colegas de classes sociais mais altas, por eles terem coisas que elas não têm. E assim as crianças buscam possuir essas coisas que nem são realmente do interesse delas, desejam apenas por sentirem-se rebaixadas por não ter também. Conscientize seu filho que a importância dele não tem nada haver com aquilo que ele tem, mas sim com quem ele é.
10 – Incentive as crianças a respeitarem o valor das coisas, sendo cuidadosas com seus objetos e não deixando de lado algo que foi comprado. Uma forma de fazer isso é doando brinquedos e roupas que já não são mais utilizados. Tente levar a criança para o momento em que a doação for feita, para que ela sinta-se feliz por ajudar os outros. Isso vai ajudá-la valorizar aquilo que tem.
11 – Nunca chame alguém que economiza seu dinheiro de pão-duro perto das crianças. Ainda que essa pessoa seja realmente alguém que não abre a carteira nunca, falar assim de uma pessoa que guarda o próprio dinheiro pode fazer com que seu pequeno pense que economizar é algo ruim.
Lembre-se: pode ser difícil e cansativo frear hoje uma criança que quer ter tudo. Mas é melhor uma criança chateada agora do que o adulto endividado no futuro.