Crianças em tratamento contra o câncer têm dia especial no AquaRio

Agência Brasil

Gabriele dos Santos, de 8 anos, já perdeu a conta de quantas vezes assistiu à animação Procurando Nemo. Foram tantas, que ela logo reconheceu os personagens Dory e Nemo nos peixes cirurgião-paleta e palhaço quando visitou o Aquário do Rio de Janeiro (AquaRio), em uma excursão que trouxe um dia de muitas cores e descobertas para um período difícil de sua vida. Ela e outras 24 crianças em tratamento contra o câncer participaram de uma excursão, promovida pela Associação Pró-Vita na última quarta-feira (3).

As crianças estão em tratamento no Hospital Federal da Lagoa, na zona sul do Rio de Janeiro. Gabriele, por exemplo, ainda precisa passar por sessões de quimioterapia. Nos últimos dias, no entanto, ela ganhou uma distração para se concentrar enquanto aguarda sua melhora: estava ansiosa para ver os tubarões mangona, os maiores pexes do aquário carioca.

(Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil)

“Não estou com medo”, respondeu ela no túnel translúcido em que os visitantes passam no meio do tanque dos tubarões. “Estão presos atrás do vidro”, garantiu a menina, segura.

“Mas e os dentes dele?”, pergunta o repórter. “E daí?”, logo rebateu a menina sorridente, que achou bonito poder andar entre os peixes.

A mãe de Gabriele, Ivonete dos Santos, também aproveitou o passeio para fazer fotos e selfies com a filha, que tinha um laço de oncinha em seus cabelos curtos.

(Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil)

Para o pequeno Pietro Eineck, que completava quatro anos no dia da excursão, a viagem seria ainda mais especial. Ainda em tratamento, ele teve a festa adiada em 15 dias, mas ganhou uma segunda chance de comemorar vendo os tubarões sobre os quais não parou de falar na última semana.

A mãe dele, Letícia Eineck, teve que segurá-lo quando avistaram pela primeira vez o tanque do tubarão. Empolgado, o garoto gritava sem parar aos peixes enormes que estavam ali.

(Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil)

“Ele estava doido para sair porque faz muito tempo que a gente não pode passear. Estamos tratando já tem quase um ano”, contou Letícia, que também viu sua rotina se resumir ao trajeto casa-hospital. “Faz muito tempo que eu não saio”.

A voluntária Raquel Vaz é uma das responsáveis pelos passeios, que têm o objetivo de humanizar o tratamento de câncer. Ela sabe a importância dessas iniciativas por sua própria experiência. Em 2015, seu filho de 14 anos morreu vítima de um linfoma, e ela se candidatou a ajudar outras famílias a atravessarem o tratamento com mais leveza.

“Os passeios remetem a criança a voltar a uma vida normal. A não pensar só no tratamento e na doença. Isso motiva mais”, disse. “A doença já te priva de tanta coisa que da alegria a gente não pode privar”.

(Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil)

Ela conta que a escolha do AquaRio como destino partiu de um pedido das próprias crianças, que também já foram levadas a sessões de cinema. A definição dos lugares depende do conforto que ele oferece, para evitar a exposição a grandes esforços ou ao sol forte.

Diretor da associação, Leonardo Kozlowski conta que a organização não governamental manteve uma tradição de ser mais voltada para estrutura hospitalar nos últimos 23 anos, mas, desde 2016, passou a dedicar mais esforços a ações de humanização como passeios e a realização de sonhos de pacientes com câncer, como voar de helicóptero ou parapente.

(Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil)

“Hoje em dia, as pesquisas mostram que, quando a criança tem atenção, acompanhamento psicológico e é levada para momentos de felicidade e descontração, ela responde mais ao tratamento”, argumentou, lembrando que as famílias também precisam de um clima positivo durante o tratamento. “Quando uma criança fica com um câncer ou uma doença grave, a família também fica. A família sofre muito”.